TW: Perseguição, mutilação, violência extrema (#APTWVLC) e arma branca (faca).
Partes grifadas: Visão da Kaya
[01.03.2025] Naquela mesma tarde, assim que acordou após o desmaio, o ator chamou aquela que vinha ganhando espaço em sua vida nos últimos tempos, não explicando muito além de que ‘sua sasaeng havia o perseguido’, com uma certa vergonha e medo dela o achar fraco.
Bohan ainda estava em estado de choque quando Kaya chegou. Ele tremia, as pernas estavam falhas e ele mal conseguiu pronunciar o "oi" que tentou dizer ao destrancar a porta para recebê-la em sua antiga residência. Seus olhos estavam marejados e um tanto perdidos; a cena da porta sendo esmurrada e os dizeres da sasaeng repetindo em looping em sua mente. Foi se escorando pelos móveis que conseguiu se sentar no sofá; caso não, teria caído, com certeza.
Mais uma vez naquele dia, se via vulnerável. As lágrimas insistiram em cair conforme ele contava à sua noona detalhadamente o que tinha acontecido. Ela parecia estar em um misto de preocupação e raiva, o olhar fundo de quem poderia matar alguém naquele exato momento. Mas ao invés disso, o acalentava, verificando se nenhum mal havia sido feito contra ele. Somente aquele cuidado era o bastante para acalmar o coração e as lágrimas do coreano. Tinha chamado a pessoa certa.
Naquela noite, Kaya o fez uma promessa. Estaria seguro à partir dali, Arashi cuidaria de tudo.
A primeira vez que Kaya presenciou aquela tradição, ela ainda era uma criança. Sentada em uma das pernas do pai, observava com olhinhos atentos ao que acontecia.
O Takeda nunca permitia que ela desviasse o olhar; dizia que era importante que ela visse tudo. Todas as outras pessoas presentes fitavam os próprios pés.
O homem em frente a eles tremia, de joelhos para seu oyabun, segurando uma tantō (uma faca fina e afiada) com uma de suas mãos enquanto mantinha a outra em cima do tecido branco que havia sido colocado sobre uma pequena tábua de madeira. Kaya lembrava-se de sentir nojo dele, pois o tatuado suava e chorava, implorava o perdão por seu erro, prometia obediência completa. Era uma cena patética que a irritava.
Shinzo, seu pai, permanecia impassível. Nenhuma daquelas súplicas parecia chegar ao homem.
Houve o som da faca batendo contra a madeira, e o gemido de dor do miserável ecoando pela sala antes silenciosa. Mas ele não tinha tempo de se lamentar pelo pedaço de dedo perdido: o enrolava no pano branco e, aos tropeços, caminhava até o chefe, entregando a ele aquele “presente”.
Kaya estendeu a mão pequena. Shinzo sinalizou para que o homem obedecesse a criança.
Arashi estava acostumado a mantê-la nos eixos, conhecia bem demais a natureza violenta da menina. Afinal, era seu trabalho cuidar dela desde que Kaya havia completado 15 anos.
Uma década sempre ali, como uma sombra, era o suficiente para que ela confiasse nele.
— Kaya-sama… Precisamos agir com cuidado. Não podemos envolver o nome da família nisso.
Ela sabia, sim, mas se recusava a se manter parada. Arashi sabia que não adianta negar ou proibir que ela agisse, apenas a guiava para caminhos que trouxessem menos problemas.
— Sei que está furiosa. E terá sua vingança, eu prometo. Mas seja paciente…
Um de seus kobuns mais novos, iniciado há pouco tempo e ansioso para mostrar sua lealdade, pediu licença para entrar. A cumprimentava como quem cumprimentaria uma rainha.